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Über Uns

A sociedade é a cidade. E a cidade é a rua. Rua como integração de funções. A democracia requer a mistura. A cidade democrática é a cidade sem guetos. É preciso exaltar a mistura, que traz benefícios colaterais a todos, até mesmo aos que estão no topo da pirâmide socioeconômica. Guetos são, por exemplo, os conjuntos habitacionais construídos nas periferias remotas. Ou os condomínios de luxo nas bordas das cidades.

Bom dia a todos.
Um grande prazer ter vcs todos aqui.
Estamos já cm uma demanda que é o documento que será trabalhado pela Abrasel junto aos candidatos a prefeito nas eleições deste ano. Toda sugestão e ideia sobre gestão municipal é bem-vinda.
Obrigado,
Abs

ALEXANDRE PESSOA, arquiteto e urbanista carioca:


“Sem calçada não se tem a vitalidade urbana, não se tem a cidade. Mas a gente não dá valor ao que está situado além da porta da nossa casa. O espaço público não pertence a ninguém. E, assim, poucos se importam com ele. O espaço público é dos cachorros, dos mendigos, do sei lá do quê. Então, o sujeito joga o lixo no chão da calçada ou da rua, mas não na casa dele. Joga da janela do carro, que é sua bolha privada. Há enorme falta de compreensão que o que é público é de todos nós”.

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JILMAR TATTO,
secretário municipal de Transportes de São Paulo,
na gestão do prefeito Fernando Haddad:

“A calçada parece invisível. Não tem ‘lobby’ para defendê-la. Não há pressão dos usuários, como há dos ciclistas, motoristas, taxistas, motofretistas. Todos eles são guerrilheiros de suas causas. Os cicloativistas não eram tantos há pouco tempo. Mas, há muitas cidades em que existem quatro ou cinco cicloativistas. Embora em pequeno número, fazem muito barulho, que chega aos gestores. Precisamos criar a consciência crítica da mobilidade do andar a pé, exigindo do poder público que cumpra a sua parte”.

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A arquiteta e urbanista mineira Du Leal (foto) diz que não são muitas as pessoas cientes de que a construção, conservação e limpeza das calçadas é atribuição do proprietário do imóvel. “Conheço muita gente do nosso nível social que desconhece isso. Estou falando aí de engenheiros, médicos, desembargadores. Ignoram, inclusive, que há uma responsabilidade legal, no caso de alguém fraturar o pé em um buraco ou um degrau, sob pena até de ser processado. Mas, como o pedestre que se acidentou também não sabe disso, nada acontece”.

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ARQUITETO E URBANISTA SYLVIO DE PODESTÁ

(foto Danilo Viegas)

Ele é morador do bairro Santo Antônio, na capital mineira. Gosta de gente e de cerveja no centro da mesa. Tanto assim é que montou um bar já no salão de entrada do escritório. Entre os 300 projetos de edificações por ele assinados, há uma obra muito conhecida dos belo-horizontinos: o Rainha da Sucata, na Praça da Liberdade, feito a quatro mãos com o arquiteto Éolo Maia (1942-2002).

Um dos amigos que lhe são bem próximos diz que Sylvio de Podestá é um “botequeiro sustentável”. Quer dizer: “Tem hora para começar e parar, mantendo a conversa sempre no prumo”. Sua casa fica em frente ao seu escritório, e vice-versa. Para chegar ao Via Cristina Bar e Cachaçaria, onde bate ponto duas vezes por semana, só dobra a esquina.

Belo Horizonte é uma cidade ao alcance de um Sylvio a pé. Ele personifica o aforismo de Proust: uma verdadeira viagem de descoberta não consiste em buscar novas paisagens, mas em ter novos olhos.

Cinco perguntas, sobre Belo Horizonte, ao arquiteto e urbanista:

1. ONDE UMA CIDADE MOSTRA QUE TEM QUALIDADE?

É no chão. Pode-se ter uma cidade com os mais belos prédios do mundo, com passeios bonitos e praças. Mas isso tudo não serve pra nada se não há a cidade no chão. Esses novos bairros e as novas áreas que você vê, tipo as da Avenida Berrini, em São Paulo, do cais de Londres, das novas torres de Madri, ou o Belvedere, aqui em Belo Horizonte, são uma ilusão. Não há cidade aí. O cara sai da garagem do seu escritório, pega uma autopista, entra em outra garagem, e está em casa. O que existe ali é parecido com Los Angeles. Ao lado do estacionamento do prédio em que mora, há um vendedor de churros; lá adiante, há um restaurante mexicano, um cachorro quente qualquer, e, no mais, aquela vastidão de asfalto e prédios.

2. QUAL O MELHOR JEITO DE SE USUFFRUIR DA VIDA URBANA?

É flanar e ver o flanador. É sentar em um bar ou café e ver as pessoas passarem. É o melhor jeito de ver, conhecer e sentir a cidade. Mas há, entre os que fazem uma cidade sem chão, uma ojeriza por música e mesa na calçada. É o melhor lugar para se conhecer uma cidade, olhar quem passa: que roupa veste, se caminha depressa ou devagar, se nas roupas daquele lugar predomina o colorido ou não, se tem mais homem ou mulher, e o cara que anda por ali está meio à toa ou apressado.

3. COMO ESTÁ O CENTRO DE BELO HORIZONTE?

É para mim o melhor lugar da cidade. Está se recuperando devagarzinho. Tem muitos jovens indo morar lá. Há pontos aglutinadores, como o Sesc Palladium (com teatro, cinema e pequenas salas para shows e exposições), o Shopping Cidade (que é tem o desenho de uma galeria comercial ligando quarteirões), a Imprensa Oficial, o Mercado Central, o Edifício Maletta (com um dos mais tradicionais bares da cidade, e, também, com lojas de livros antigos, escritórios), o Museu Inimá de Paula, o Cine Theatro Brasil, o Centro de Referência da Moda. E assim por diante. Junto ao Centro, há a Praça da Estação, a Serraria Souza Pinto (transformada em uma área de eventos). O que está faltando é a gente, durante a noite, poder andar por li mais descontraidamente. Ainda há poucas moradias no centro, tornando as ruas mais vazias depois que o comércio fecha.

4. E O BAIRRO DA SAVASSI?

O que falta à Savassi é uma boa gestão. Começaram a realizar grandes eventos, que não cabem na escala da região. Isso ocorreu na Copa do Mundo. E acontecem alguns shows. Ocorre uma ocupação desproporcional, que deveria ser levada para a Praça da Estação, que tem uma área bem maior e mais adequada. À Savassi falta gestão, faltam pequenos palcos, um tratamento que seja compatível com a dimensão desse lugar.

5. MORAR NO CONDOMÍNIO E TRABALHAR EM BELO HORIZONTE. FAZ SENTIDO?

Ora, se o cara vai morar num condomínio, lá longe, porque é escritor, poeta, artista plástico, e quer se isolar para refletir e trabalhar, tudo bem. Vai ficar lá sossegadinho, morando bonitinho. Mas, não. O sujeito mora lá, com a sua família, e trabalha em Belo Horizonte. A mulher dele, também. Os filhos estudam em Belo Horizonte. Então, é aquele vaivém sem fim. Vem para a cidade todos os dias, joga fumaça no ar, entope o trânsito, deixa na cesta seu lixo diário, e volta correndo pra lá, virando as costas para todos os problemas que ajudou a criar. Sequer frequenta um bar ou restaurante da cidade, porque tem o seu clube, piscina e quadra de tênis no condomínio. Não faz parte de nenhuma associação de bairro, nem de vai a reunião de sindicato, a não ser da Fiemg.

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